sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A poesia de Gaspara Stampa IV

(continuação)

VIII

Se, così come sono abietta e vile
donna, posso portar sì alto foco,
perché non debbo aver almeno un poco
di ritraggerlo al mondo e vena e stile?
S'amor con novo, insolito focile,
ov'io non potea gir, m'alzò a tal loco,
perché non puó non con usato gioco
far la pena e la penna in me simile?
E, se non può per forza di natura,
puollo almen per miracolo, che spesso
vince, trapassa e rompe ogni misura.
Come ciò sia non posso dir espresso;
io provo ben che per mia gran ventura
mi sento il cor di novo stile impresso.


VIII

Se, assim como sou abjecta e vil
mulher, posso levar tão alto o fogo,
porque não devo ter somente um pouco
de desviá-lo do mundo em veia e estilo?
Se amor com nova, insólita alcova,
ond'eu não podia jazer, m'elevou a tal ponto,
porque não pode não com usado jogo
fazer pena e penas em mim iguais?
E, se não pode por força de natura,
pode-o somente por milagre, que frequente
vence, ultrapassa e quebra toda a medida.
Como tal seja não posso dizer expresso;
eu sinto bem que por minha grã ventura
sinto o coração de novo estilo impresso.


IX

S'avien ch'un giorno Amor a me mi renda,
e mi ritolga a questo empio signore;
di che paventa, e non vorrebbe, il core,
tal gioia del penar suo par che prenda;
voi chiamerete invan la mia stupenda
fede, e l'immenso e smisurato amore,
di vostra crudeltà, di vostro errore
tardi pentito, ove non è chi intenda.
Ed io, cantando la mia libertade,
da così duri lacci e crudi sciolta,
passerò lieta a la futura etade.
E, se giusto pregar in ciel s'ascolta,
vedrò forse anco in man di crudeltade
la vita vostra a mia vendetta involta.



IX

Se sucede que um dia Amor a mim me renda,
e me retira a este ímpio senhor;
dia que receia, e não o queria, o coração,
que tal gozo do penar seu igual receba;
Chamareis em vão a minha estupenda
fé, e o imenso e desmesurado amor,
da vossa crueldade, do vosso erro
tarde arrependido, quando ninguém ouvirá.
E eu, cantando a minha liberdade,
de tão crus e duros laços liberta,
passarei feliz à futura idade.
E, se o justo pregar no céu se escuta,
verei talvez ainda em jeito de crueldade
a vida vossa na minha vingança envolta.


(continua)

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