segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A poesia de Gaspara Stampa VI

(continuação)

XVI

Si come provo ognor novi diletti,
ne l'amor mio, e gioie non usate,
e veggio in quell'angelica beltate
sempre novi miracoli ed effetti,
così vorrei aver concetti e detti
e parole a tant'opra appropriate,
sì che fosser da me scritte e cantate,
e fatte cónte a mille alti intelletti.
Et udissero l'altre che verranno
con quanta invidia lor sia gita altera
de l'amoroso mio felice danno;
e vedesse anche la mia gloria vera
quanta i begli occhi suoi luce e forza hanno
di far beata altrui, benché si pèra.


XVI

Assim como sinto sempre novos prazeres,
nem o amor meu, e alegrias não usadas,
e percebo naquela angélica beleza
sempre novos milagres e efeitos,
assim queria ter conceitos e ditos
e palavras a tant'obra apropriados,
assim que fossem por mim escritos e cantados,
e prestadas contas a mil altos intelectos.
E ouvissem as outras que virão
com quanta inveja quanto o seu caminho contrário
do amoroso meu feliz dano;
e visse ainda a minha glória vera
quanto os belos olhos seus luz e força têem
de fazer feliz outras, ainda que morra.



XVII

Io non v'invidio punto, angeli santi,
le vostre tante glorie e tanti beni,
e que' disir di ciò che braman pieni,
stando voi sempre a l'alto Sire avanti;
perché i diletti miei son tali e tanti,
che non posson capire in cor terreni,
mentr'ho davanti i lumi alti e sereni,
di cui conven che sempre scriva e canti.
E come in ciel gran refrigerio e vita
dal volto Suo solete voi fruire,
tal io qua giù da la beltà infinita.
In questo sol vincete il mio gioire,
che la vostra è eterna e stabilita,
e la mia gloria può tosto finire.


XVII

Não vos invejo em nada, anjos santos,
as vossas tantas glórias e tantos bens,
e aquele desejo daquilo que bramam cheios,
estando vós sempre ao alto Senhor diante;
porque os dilectos meus são tais e tantos,
que não podem caber em corações terrenos,
enquanto tenho diante os lumes altos e serenos,
de que convém que sempre escreva e cante.
E como no céu grande refrigério e vida
do vulto Seu costumais vós fruir,
como eu aqui em baixo da beleza infinita.
Só nisto venceis o meu gozar,
que a vossa é eterna e estabelecida,
e a minha glória pode breve findar.



XVIII

Quando i' veggio apparir il mio bel raggio,
parmi veder il sol, quand'esce fòra;
quando fa meco poi dolce dimora,
assembra il sol che faccia suo viaggio.
E tanta nel cor gioia e vigor aggio,
tanta ne mostro nel sembiante allora,
quanto l'erba, che pinge il sol ancora
a mezzo giorno nel più vago maggio.
Quando poi parte il mio sol finalmente,
parmi l'altro veder, che scolorita
lasci la terra andando in occidente.
Ma l'altro torna, e rende luce e vita;
e del mio chiaro e lucido oriente
è 'l tornar dubbio e certa la partita.


XVIII

Quando vejo surgir o meu belo raio,
parece-me ver o sol, quando surge;
quando faz em mim depois doce demora,
assemelha ao sol que faça a sua viagem.
E tanta no coração alegria e vigor tenho,
tanta mostro no semblante então,
quanta a erva, que tinge o sol ainda
ao meio dia do mais incerto maio.
Quando pois parte o meu sol finalmente,
parece-me o outro ver, que descolorido
deixe a terra andando para ocidente.
Mas o outro volta, e traz luz e vida;
e do meu claro e lúcido oriente
é o tornar dúbio e certa a partida.



XIX

Come chi mira in ciel fisso le stelle,
sempre qualcuna nova ve ne scorge,
che, non più vista pria, fra tanti sorge
chiari lumi del mondo, alme fiamelle;
mirando fisso l'alte doti e belle
vostre, signor, di qualcuna s'accorge
l'occhio mio nova, che materia porge,
onde di lei si scriva e si favelle.
Ma, sì come non può gli occhi del cielo
tutti, perch'occhio vegga, raccontare
lingua mortal e chiusa in uman velo,
io posso ben i vostri onor mirare,
ma la più parti d'essi ascondo e celo,
perché la lingua a l'opra non è pare.


XIX

Como quem mira no céu fixo as estrelas,
sempre alguma nova aí descobre,
que, não antes vista, entre tantas surge
claros lumes do mundo, almas ardentes;
mirando fixo as altas doutas e belas
vossas, senhor, de alguma se apercebe
o olhar meu de nova, que matéria alonga,
onde de ela se escreva e se fale.
Ma, assim como não pode os olhos do céu
todos, que olho veja, contar
língua mortal e fechada em humano véu,
eu posso bem as vostras honras mirar,
mas a maior parte desses escondo e oculto,
porque a língua à obra não é par.



(continua)

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