segunda-feira, 25 de julho de 2011

2 Poemas de Ievgueni Ievtuchenko


A figura de Ievgueni Ievtuchenko, se é entre nós conhecida pela prosa, não o é pela poesia. Até ao momento presente nunca me deparei com uma única edição da sua obra poética. Assim sendo, e muito embora a presente tradução seja feita a partir de traduções da sua obra para as línguas italiana e francesa, não quisemos deixar de a fazer por acreditarmos que se trata de um poeta fabuloso que a incúria editorial e a boçalidade do homo televisivus desprezaram e ignoram.
A presente tradução é igualmente dedicada ao meu amigo João Só que hoje comemora o seu aniversário.

Monologo dell'uomo di dopodomani

Non avevano un partito Adamo e Eva,

l'arca fu ideata dall'apartitico Noè.
Tutti i partiti, con sorrisetto maligno,

l'inventò il diavolo -- ha cattivo gusto.

E forse nel cuore della mela stessa,

qual verme era rinchiusa -- verme e serpente in una --

la politica -- professione di origine diabolica --
e gli uomini sono inverminiti poi.

La politica inventò la polizia,
la politica inventò i capi,
contò la persona viva con l'unità
e suddivise gli uomini in partiti.

Dov'è della vedova il partito, del mutilato, del pellegrino,

del bambino e della famiglia il partito dov'è?
Dov'è il confine tra Magadan e Majdanek,
e tra Oswiecim e Songmi?

Un giorno, un giorno, un giorno,
ai trisnipoti dei tempi odierni tutti i partiti
verrano a mente come remota cosa,
come selvaggia, stragrande Babilonia.

E un mondo ci sarà senza mutilati sul sagrato,
senza storpi morali al potere,

e un unico partito in esso:
il suo semplice nome --uomo.


Monólogo do homem de depois de amanhã

Não tinham um partido Adão e Eva,
a arca foi ideada pelo apartidário Noé.
Todos os partidos, com um sorriso maligno,
inventou-os o diabo -- que tem mau gosto.

E talvez no coração da própria maçã,
qual verme estava encerrada -- verme e serpente em uma --

a política -- profissão de origem diabólica --
e os homens criaram bicho então.

A política inventou a polícia,
a política inventou os chefes,
contou a pessoa viva com a unidade
e subdividiu os homens em partidos.

Onde está da viúva o partido, do mutilado, do peregrino,
da criança e da família o partido onde está?
Onde é a fronteira entre Magadan e Majdanek,
e entre Oswiecim e Songmi?

Um dia, um dia, um dia,
aos trinetos dos tempos hodiernos todos os partidos
ocorreram à mente como remota coisa,
como selvangem, enormíssima Babilónia.

E um mundo existirá sem mutilados no sagrado,
sem estorpiados morais no poder,
e num único partido nele:
o seu simples nome --homem.

(escrita em 1972, publicada em 1991)


Formica afgana

Giace un ragazzo russo sulla terra afgana.
Lungo un suo zigomo avanza formica-musulmana.
Da giorni il morto non si rade. Farsi strada è fatica...
A lui con esile voce sussurra la formica:
«tu non sai dove esattamente per le ferite sei spirato.
Questo solo sai -- da qualche parte è stato, presso l'Iran.
Perché mai comparisti con l'arma contro di noi,
tu che qui per prima volta sentisti la parola "islam"?
Alla nostra patria -- di per sé scalza e indigente,
tu che cosa darai -- la fila per un niente?
Venti milioni di morti non vi bastano ancora,
per volercene aggiungere ora?»

Giace un ragazzo russo sulla terra afgana.
Lungo un suo zigomo avanza formica-musulmana,
e vuole le ortodosse consimili pregare,
ché il ragazzo sollevino, riescano a rianimare.
Ma nella patria a nord, di vedove e orfani,
sono rimaste in poche tali formiche.


Formiga afegã

Jaz um rapaz russo na terra afegã.
Ao longo do seu malar avança a formiga-muçulmana.
São já dias que o morto não se barbeia. Fazer estrada é fadiga...
A ele com débil voz sussurra a formiga:
«tu não sabes onde exactamente de feridas expiraste.

Isto apenas sabes -- em qualquer parte foi, junto ao Irão.
Porque compareceste com a arma contra nós,
tu que aqui pela primeira vez ouviste a palavra "islão"
?
À nossa pátria -- de per si descalça e indigente,
que coisa darás -- a bicha para um nada?
Vinte milhões de mortes te não bastam ainda,
para querer juntar-lhe outros agora


Jaz um rapaz russo na terra afegã.
Ao longo do seu malar avança a formiga-muçulmana,
e quer as ortodoxas congéneres rogar,
que o rapaz ergam, consigam reanimar.
Mas na pátria a Norte, de viúvas e orfãos,
poucas ficaram de tais formigas.

(escrita em 1983, publicada em 1990)

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