terça-feira, 26 de julho de 2011

José Carlos Ary dos Santos: Poeta Castrado, Não!


Serei tudo o que disserem

por inveja ou negação:

cabeçudo dromedário

fogueira de exibição

teorema corolário

poema de mão em mão

lãzudo publicitário

malabarista cabrão.

Serei tudo o que disserem:

Poeta castrado não!

Os que entendem como eu

as linhas com que me escrevo

reconhecem o que é meu

em tudo quanto lhes devo:

ternura como já disse

sempre que faço um poema;

saudade que se partisse

me alagaria de pena;

e também uma alegria

uma coragem serena

em renegar a poesia

quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu

a força que tem um verso

reconhecem o que é seu

quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala

é tão vulgar que nos cansa

mas que dizer de uma bala

num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história

a morte é branda e letal

mas que dizer da memória

de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser

o poema dia a dia?

Um bisturi a crescer

nas coxas de uma judia;

um filho que vai nascer

parido por asfixia?!

Ah não me venham dizer

que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem

por temor ou negação:

Demagogo mau profeta

falso médico ladrão

prostituta proxeneta

espoleta televisão.

Serei tudo o que disserem:

Poeta castrado não!


José Carlos Ary dos Santos

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